Pesquisa inédita realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM), em parceria com 22 especialidades médicas, com o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo e a Federação Nacional de Associações de Prestadores de Serviço de Fisioterapia, revela alto grau de insatisfação dos prestadores de serviço das três áreas com os planos de saúde.

 

Isso ocorre principalmente em virtude de abusos, como pressões para reduzir solicitações de exames essenciais, dificuldades para receber pelos serviços prestados (glosas), restrição a procedimentos de alta complexidade, defasagem dos honorários e interferência nos prazos de internação, entre outros nocivos à correta prática e à assistência segura aos pacientes.

 

A pesquisa, que também tem apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, dos Sindicatos dos Médicos, da Academia de Medicina de São Paulo e da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, foi realizada entre os dias 3 e 14 de abril, com uma base de amostragem recorde: cerca de 5 mil prestadores, somadas as três profissões. Seu objetivo é conhecer a opinião de médicos especialistas, cirurgiões-dentistas e fisioterapeutas sobre a relação com os planos e seguros saúde.

 

Hoje, 80% dos médicos, 88% dos cirurgiões-dentistas e 87% dos fisioterapeutas afirmam que já se descredenciaram ou pretendem se descredenciar de planos de saúde.

 

Quando solicitados a fazer uma avaliação geral dos planos, somente 6% dos médicos cravaram índices ótimo (2%) e bom (4%). No caso dos cirurgiões-dentistas, houve 1% para ótimo e 2% para bom. Já entre os fisioterapeutas, nenhum dos pesquisados avaliou a assistência na saúde suplementar como ótima ou boa.

 

Os índices altíssimos de ruim/péssimo e uma parcela menor de regular evidenciam que o sistema não cumpre seu papel, se interpretada a opinião dos profissionais. Afinal, em se tratando de cuidados à saúde e à vida de seres humanos, até o regular é péssimo.

 

Sobre práticas comuns que interferem na assistência, as três primeiras apontadas pelos fisioterapeutas foram: glosas indevidas e/ou lineares (89%); restrição ao número de atendimentos fisioterapêuticos em ambulatório (87%); realizar substituição de códigos de procedimentos, sempre para valores menores (87%).

 

Os cirurgiões-dentistas apontam a exigência de raio-X inicial e final (84%); a não autorização de procedimentos (71%); e as glosas imotivadas (67%).

 

Os médicos, por sua vez, indicam, nos três primeiros lugares de ações abusivas, a não autorização de procedimentos ou medidas terapêuticas (77%); a restrição a procedimentos de alta complexidade (69%); e ações para dificultar atos e diagnósticos terapêuticos mediante a designação de auditores (69%). Outro ponto bastante citado foi a interferência no tempo de internação dos pacientes (42%).

 

Obviamente, com tantos problemas no dia a dia, os índices de insatisfação são estratosféricos. O item remuneração registra a insatisfação de 98% dos médicos, 97% dos cirurgiões-dentistas e 98% dos fisioterapeutas. Vale destacar que é quase unanimidade nas três profissões a percepção de que não receberam reajustes que permitam recompor satisfatoriamente os custos envolvidos na prática diária: médicos (97%), cirurgiões-dentistas (97%) e fisioterapeutas (96%).

 

Essas e outras distorções referentes à inexistência de cláusulas contratuais com critério e periodicidade de reajuste levaram ao aumento da carga de trabalho: médicos (83%), cirurgiões-dentistas (80%) e fisioterapeutas (87%).

 

A desvalorização dos prestadores de serviço tem graves reflexos no atendimento aos pacientes. Um exemplo: médicos (61%), dentistas (70%) e fisioterapeutas (58%) confirmam que reduziram o número de procedimentos ou cirurgias em virtude da má remuneração.

 

Ainda segundo os profissionais das três áreas, um grande número de pacientes de planos de saúde tem recorrido ao SUS e ao atendimento privado em função de obstáculos colocados pelas empresas.