Treze mil médicos são diplomados ao ano, mas faltam profissionais
O Jornal Nacional mostrou, na semana passada, que mais da metade dos recém-formados nas faculdades de medicina de São Paulo foi reprovada num exame do conselho regional da categoria. Nesta semana, o Jornal Nacional vai apresentar uma série de reportagens sobre a formação dos médicos no Brasil. Um país em que a maioria dos estados ainda carece de profissionais.
A cada ano no Brasil quase 13 mil alunos se formam em medicina segundo o Ministério da Educação. Mas, às vezes quando mais se precisa de um médico, ele não está lá. Mesmo numa cidade como São Paulo.
Temos no país 371 mil médicos e o problema, segundo a categoria, não é a falta, mas a má distribuição deles.
“Há uma concentração excessiva nas capitais e no litoral. Veja que na Região Sul, Sudeste, nos temos 70, em torno de 70% dos médicos do país. E na região Norte, temos o menor numero de médicos e, assim mesmo, uma grande maioria concentrado nas capitais”, afirmou Roberto D'ávila, presidente do Conselho Federal de Medicina.
O governo discorda, diz que faltam sim médicos no Brasil e critica as entidades de classe.
“Sob o pretexto que não é possível formar com qualidade, não apoiam a formação de novos médicos. Nós temos é que buscar garantir a qualidade, mas faltam médicos no Brasil”, ressaltou Aloizio Mercadante, ministro da Educação.
O ministro mira em países como Portugal e Argentina, que tem mais de três médicos por mil habitantes. Por aqui os números variam, mas temos menos que dois por mil.
Para chegar a 2,5 em 2020, foi criado o Plano Nacional de Educação Médica, lançado em agosto de 2011 durante a inauguração de uma nova faculdade em Garanhuns, Pernambuco.
“O nosso objetivo é aumentar em 4,5 mil o numero de médicos formados ao ano. E também interiorizar os cursos de medicina, mantendo um elevado padrão de qualidade”, disse Dilma Rousseff na ocasião.
Passar numa boa faculdade pública de medicina é um grande desafio. Em Garanhuns, no agreste de Pernambuco, não é diferente. No primeiro vestibular, cada vaga foi disputada por 56 candidatos. Quem passou só não sabia que depois teria que fazer muito mais do que estudar.
Logo de cara, eles fizeram greve para conseguir um laboratório, mas ainda falta de tudo: cadáveres para o estudo de anatomia? Não tem. A biblioteca? Não está completa. É um não atrás do outro. Laboratório de Habilidades? Não tem ainda. Biotério? Pesquisa? Também não. O que deveria ser um hospital-escola. Também não é.
“Esse hospital não tem condições de receber o estudante de medicina devido à falta de profissionais”, disse Carlos Roberto de Fraga, presidente do Centro Acadêmico.
O diretor da faculdade reconhece que a correria não ajudou.
“Nós tivemos 6 meses pra estruturação, vamos dizer assim, dessa parte inicial e aí atrasou o edital do concurso”, afirmou Pedro Falcão, diretor da Faculdade de Medicina de Garanhuns.
Com professores temporários, sem a necessária dedicação exclusiva, os alunos temem pelo futuro do curso, que é uma extensão da universidade estadual.
Há 20 anos o Brasil tinha 83, hoje tem 197 faculdades de medicina. É mais que Estados Unidos, que a China. No mundo só perdemos para a índia que tem 272 escolas médicas.
A expansão foi sentida por faculdades particulares tradicionais como a Gama Filho, do Rio de Janeiro, que alega ter perdido espaço no mercado, a chance de ter mais alunos, diante da proliferação de faculdades privadas mais baratas e de acesso mais fácil.
“Nós tivemos o problema da crise de concorrência no mercado, concorrência predatória. O impacto foi muito violento, foi muito forte”, revelou Gilberto Chaves, pró-reitor de saúde da Universidade Gama Filho.
O impacto foi sentido na Santa Casa, que é o hospital conveniado, onde há mais de 40 anos os alunos da Gama Filho aprendem toda a parte prática do curso. Para cortar gastos, 140 professores da Gama Filho, que eram também médicos da Santa Casa. foram demitidos.
No meio de enfermaria, uma aula reúne alunos de vários períodos. Essa é a união da medicina teórica com a prática. Uma cena que deveria se repetir várias vezes por dia, na Santa Casa do Rio de Janeiro. Mas não é o que acontece
Para que pacientes e alunos não fossem totalmente abandonados, 40 médicos permaneceram dando aula de graça.
Fonte: G1