Ganho do médico está defasado, diz presidente da ANS
Em audiência pública no Senado que discutiu o pagamento a médicos da rede privada, o diretor-presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Mauricio Ceschin, concordou com as críticas sobre o baixo pagamento dos planos de saúde aos médicos.
"É evidente que há uma defasagem no ganho medico da saúde suplementar. A discussão é se ela deve ser resgatada pelo puro e simples repasse ao consumidor. Precisamos buscar alternativas de redistribuição de modelos de remuneração no sistema", disse, na manhã desta terça-feira. Ceschin apresentou dados que indicam mais investimento em tecnologias e materiais que em pagamento pela força de trabalho: "56% do que o sistema de autogestão gasta é com medicamentos, órteses e próteses, só 11% com honorários médicos. Então há uma transferência do honorário médico para tecnologia, consumo de materiais medicamentos, órteses". Senadores criticaram o modelo de organização e gestão da atenção privada de saúde. "Nos últimos dez anos, as operadoras tiveram 160% de reajuste e passaram 40% para os médicos. É aviltante", disse o senador Paulo Davim (PV-RN), ele próprio médico. O motivo, segundo o senador, está na forma de financiamento do setor. "Pacientes que pagam planos de saúde ficam esperando leitos de UTI no corredor, porque os hospitais não querem ampliar os leitos, a remuneração para isso é irrisória." Só este ano, os médicos que atendem a planos de saúde fizeram duas paralisações pontuais por melhores honorários e condições de trabalho, uma em abril e outra em setembro. Em São Paulo, a mobilização foi mais extensa. OMISSÃO DA ANS O secretário de saúde suplementar da Fenam (Federação Nacional dos Médicos), Márcio Bichara, afirmou que houve omissão da ANS na última década sobre os honorários médicos. Apontou ainda outros problemas. "Se hoje tem plano de saúde por R$ 40, imagina [os novos planos] para as classes C e D? Quem controla a venda indiscriminada dos planos? Alguém tem que intervir nisso", disse. O diretor-presidente da ANS disse que, mesmo sem ter essa atribuição legal, a agência tem investido na negociação entre entidades médicas e operadoras de planos de saúde. "Na medida que melhorarmos os modelos de remuneração dos hospitais, criamos recursos para remunerar os médicos e não só repassar ao consumidor." Ceschin citou dados sobre a saúde suplementar no país, que teve um crescimento de 9% no número de beneficiários em 2010, é o 5º em número de reclamações nos Procons e hoje ainda mantém 8 milhões (17% da rede) de contratos antigos que não estão sujeitos à legislação em vigor.