A discussão foi ampla e demorada. Por ocasião do Dia Mundial da Saúde, o Conselho Regional de Medicina do Piauí, juntamente com o Sindicato dos Médicos e a Associação Piauiense de Medicina, reuniu órgãos públicos ligados à Saúde na sede do CRM para discutir problemas que afetam o setor.

 

O presidente do Conselho, Dr. Wilton Mendes, apresentou um relatório a respeito do funcionamento de hospitais e clínicas da rede pública de Saúde. O documento foi elaborado após uma fiscalização feita pela entidade no interior do estado.

 

Através das visitas foi possível constatar que médicos lotados no Hospital Regional de Floriano estão operando pacientes sem receber a remuneração pelos procedimentos. “O hospital é o único onde ainda funciona um centro cirúrgico. De Floriano até Teresina nenhum deles está funcionando. Todos estão sucateados. E mesmo em Floriano, a enfermaria funciona em condições precárias. A Unidade de Terapia Semi-Intensiva tem quatro leitos, mas nenhuma tem bomba de infusão. Os médicos que operam de sobreaviso estão sem receber”, denunciou Wilton Mendes.

 

Além da situação dos hospitais, as entidades discutiram também a questão do exercício da profissão por acadêmicos em hospitais. Durante a inspeção do CRM, Wilton Mendes conta que encontrou estudantes cobrindo plantões no hospital de São Pedro do Piauí sem a orientação de um profissional. “Isso é um crime contra a população”, afirmou indignado.

 

As entidades criticaram a municipalização dos hospitais e o projeto da Secretaria Estadual de Saúde que prevê o pagamento de bolsas para estudantes que decidirem trabalhar no interior. “O projeto não deixa claro quanto o médico vai ganhar durante esses dois anos posteriores, nem o tipo de vínculo empregatício, carga horária ou condições de trabalho que serão impostas a esses futuros profissionais. Se é para resolver o problema, que o Estado ofereça salário digno. Não dá para compreender como o Governo pode propor uma bolsa com remuneração atrativa como essa e não ser capaz de garantir salário digno. Precisamos de soluções coerentes e não apenas de engodos”, reclama o presidente do SIMEPI, Dr. Leonardo Eulálio.

 

A coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde do Ministério Público Estadual, Cláudia Seabra, participou da reunião e mostrou-se contrária à interdição das unidades que apresentam riscos à saúde dos paciente, mas culpou o médico por continuar trabalhando em condições precárias.

 

O presidente do CRM, Dr. Wilton Mendes, disse que só há uma solução para o problema: a interdição de tais unidades de saúde. No entanto, a promotora afirmou que não é favorável à interdição de hospitais. Por esta razão, as entidades médicas estudam a possibilidade de impor uma interdição ética àquelas unidades em que os profissionais sentem-se impossibilitados de exercer a Medicina devido as condições precárias, que acabam ameaçando a integridade física dos pacientes.